Grhau: 30 anos integrando indivíduo, família e sociedade

Equipe de terapeutas do Grhau, durante festa de comemoração dos 15 anos da Clínica
No último dia 28 de março, o Grhau, Grupo de Reabilitação e Habilitação Unificado, completou 30 anos de existência, dedicando-se desde seu início à criança com disfunção neuromotora. Para acolher esse paciente, conhecê-lo e ajudá-lo no seu processo de reabilitação. Para lembrar um pouco desses 30 anos de muitas histórias, as coordenadoras que estão há mais tempo na Clínica contam para nós alguns dos princípios que nortearam esse trabalho ao longo dessas três décadas de muito trabalho e aprendizado.
Além de agregar os novos recursos de tecnologia e novas metodologias, sempre houve uma preocupação em ter um olhar enriquecido para o paciente. Como explica a fisioterapeuta Janice Ortiz, uma das coordenadoras, presente na clínica desde a sua fundação: “A primeira coisa que a gente agregou, lá nos primórdios, entre 1983 e 1984, foi o que a gente chamava de terapia integrada, de fazer a Fisioterapia, a Fonoaudiologia e a Terapia Ocupacional juntas. Porque a gente achava que a criança não podia ser vista em partes, que ela era um todo, e era preciso haver uma somatória de olhares para conseguir trazer para ela o que havia de melhor”.
1993: Janice e pacientes do Grhau, durante ida ao Circo 

Logo a equipe percebeu a importância primordial da família no processo da reabilitação. Em um determinado momento, elas contam que começaram a ir à casa dos pacientes para dar orientações, entendendo o seu ambiente familiar. “Isso foi muito importante, porque eu tenho que integrar o indivíduo ao seu ambiente, e não à minha sala de terapia”, reforça Janice. Era preciso conhecer a família a que essa criança pertencia, entender suas necessidades e dificuldades, para poder oferecer aos pais e cuidadores orientações adaptadas à sua realidade. “Percebemos que, sem o trabalho da família, nada acontecia. Então a gente tinha que integrar, além das terapias, um trabalho junto à família”, lembra a fisioterapeuta.
Terapias em grupo e com bebês
Outra grande preocupação presente neste processo, especialmente no trabalho com bebês, é com o vínculo entre mãe e filho. É importante incentivar o fortalecimento desse vínculo, que é instintivo e já começa a existir desde a gestação, mas precisa ser alimentado e fixado durante os primeiros meses de convivência com o bebê para que ele possa se desenvolver. Janice explica que é preciso estar atento à história do paciente, a traumas que a criança possa carregar. No caso de crianças com disfunção neuromotora, é comum elas passarem os primeiros meses de vida em uma UTI, sendo agredidas com estímulos inadequados e com estresse decorrente da internação. Um período necessário para sua recuperação, mas que também deixa marcas. 
Quando essa criança chega em casa, a mãe pode enfrentar dificuldades nos cuidados diários, que também dificultam o fortalecimento desse vínculo. Se o vínculo não for alimentado no dia a dia, não se fixa, e se ele não existe, o bebê não se desenvolve, mesmo que a criança tenha as condições e sejam empregadas as melhores técnicas. Ela explica: “Conforme a gente percebe que a mãe começa a descobrir o filho, a criança começa a se desenvolver melhor. Parece que a mãe passa toda essa segurança para a criança, dizendo a ela: ‘Você pode se desenvolver, vá em frente!’ ”. 
Momentos de confraternização: festas de final de ano no Grhau
Portanto, é muito importante que a mãe aprenda a conhecer seu filho, identificar suas necessidades e sua forma de se comunicar, dentro das particularidades da sua condição, mais do que passar orientações complexas. Maisa Forster Machado, Coordenadora responsável pela Terapia Ocupacional e que integra a equipe do Grhau desde a primeira década, lembra que, como o terapeuta está em contato com o paciente várias horas por semana, seu papel se torna fundamental nesse processo de dar suporte e orientação à família.
Projeto Parceria: Maisa Forster Machado e paciente do Grhau
Esses princípios nortearam todas as mudanças e inovações dentro da clínica. No início da década de 1990, a equipe do Grhau foi a Budapeste, na Hungria, aprender o método da Educação Condutiva desenvolvida pelo médico Andreas Petö. Com auxílio de pais de pacientes e da equipe de terapeutas da Hungria que também veio ao Brasil fazer treinamentos e cursos intensivos, o método foi trazido para o Brasil com um projeto piloto do Grhau. A filosofia veio ao encontro do que a equipe já acreditava. Um trabalho intensivo, unindo as terapias de reabilitação ao processo pedagógico, com participação da família, buscando fortalecer o indivíduo, a sua auto-estima, ajudando-o a construir uma base emocional para se integrar à sociedade ativamente. Muitos alunos fizeram posteriormente o processo de inclusão na escola regular de maneira bem-sucedida, numa época em que a inclusão ainda era pouco difundida no País.
Pedágio para Educação Ambiental: “ajude a preservar o meio ambiente”
Maria Lucia, fisioterapeuta coordenadora da unidade educacional do Grhau, comenta: “A gente soube ampliar porque a gente agregou várias coisas. A gente agregou quem é esse indivíduo lá fora e quem é a sua família”. Ela lembra que, ao longo do tempo, também houve a preocupação em criar movimentos relacionados ao meio ambiente e à sociedade, com projetos como a Fábrica de Parceria, trazendo questões como não jogar lixo na rua, preservar a natureza, e o Entre Nessa, incentivando iniciativas artísticas, como apresentações de dança feitas pelos pacientes. Sempre se buscou olhar para fora, para integrar o paciente à sociedade de maneira ativa e participativa, descobrindo todo seu potencial.
à esquerda, apresentação de final de ano feita por alunos, e à direita, apresentação de dança no MAM, no projeto Oficina de Artes
“Tenho muito orgulho da nossa história, pois nesses 30 anos a gente manteve os nossos valores, e são valores que não ficaram antigos. Sinto o orgulho de quem ainda está buscando sempre o melhor para aquele indivíduo que a gente se propôs trinta anos atrás a começar a cuidar. É um orgulho estar com as pessoas com quem você compartilha dessa história”, finaliza Maria Lucia.
Janice também afirma que seu sentimento é de alegria. “Nem acredito, porque parece que eu comecei ontem. A vontade de continuar é de quem está apenas começando”. 
Claudia Giordani, Coordenadora da Fisioterapia Respiratória que também participou desse gostoso bate-papo sobre história do Grhau, acredita que o fato de todas gostarem muito do que fazem e acreditarem em seus pacientes foi muito importante para que a clínica chegasse a essa importante data “Tenho muita alegria. É bom estar aqui, é bom compartilhar, a troca é muito grande. E quando a gente faz o que gosta a gente se alimenta também. A gente ainda chora e vibra com muitas pessoas, então a gente se alimenta de tudo o que acontece no nosso meio”. 
É com essa mesma motivação e alegria que a equipe do Grhau olha para frente, acreditando nesse trabalho que se iniciou há três décadas: de atender seus pacientes de maneira humanizada, despertando seus desejos, ajudando-o a descobrir possibilidades e integrando indivíduo, família e sociedade.

Projeto Integrare

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