Pilates em Neurologia

O Pilates emprega o uso terapêutico do movimento para a reabilitação.

Filosofia e Princípios do Método

Pilates denominava seu método de Contrologia, pois “É a mente que constrói o corpo.” (Fredriech Von Schiler). Existe uma conexão corpo e mente, uma unidade entre corpo e mente.

Segundo Pilates, é importante e possível “produzir um corpo uniformemente condicionado, flexível e forte a partir do controle total da mente.”

Para uma mudança ocorrer no corpo, ela primeiro precisa ser aceita pela mente. A mente interfere de forma positiva ou negativa no funcionamento cerebral, e este, consequentemente, no funcionamento do corpo. Desta forma, a mente pode “educar” os músculos de maneira construtiva, ergonômica, ou destrutiva, anti-ergonômica. 

OBS.: Ergonômica significa realizar uma tarefa adequadamente com o menor gasto energético necessário.

Isto nos leva aos princípios de Pilates.

1. Concentração

Deve-se ter intenção e atenção no movimento. O pensamento estando focado no movimento leva à percepção consciente do corpo, gerando possibilidades de novas conexões nervosas, e, assim, alterando a imagem corporal. Os exercícios quando feitos de forma automática levam ao reforço das vias nervosas já estabelecidas.

2. Controle

Intimamente ligado à concentração, uma vez que para obtermos controle de uma parte do corpo, precisamos nos focar.

3. Centro ou Cinturão

Os movimentos de Pilates SEMPRE acontecem a partir do centro de força e prosseguem para os membros.

O centro é formado, de modo geral, por paredes musculares: em cima pelo diafragma, embaixo pelos músculos do assoalho pélvico, anteriormente pelo transverso do abdômen e posteriormente pelos multífidos. Estes músculos têm a função de estabilizar a coluna lombar, que sustenta cerca de 75% do peso corporal.

Quando contraídos eles aumentam a pressão intra-abdominal (como uma bexiga) e, isto, tende a diminuir em até 40% a pressão nos discos intervertebrais. O centro se transforma num cilindro “rígido” que protege a coluna lombar. O corpo se torna mais leve, os movimentos mais fáceis, mais suaves, mais ergonômicos.

4. Fluidez

Movimentos suaves e contínuos. Para tanto, é necessário ter flexibilidade e alongamento dos músculos. Assim, os movimentos poderão ser realizados de forma leve e equilibrados.

5. Precisão

Busca-se o controle máximo do movimento, com consequente menor gasto energético. Isto é possível uma vez que há contração apenas dos músculos necessários para o movimento, e, há diminuição de compensações desnecessárias.

6. Respiração

É VIDA. Desta forma deve ser contínua durante os exercícios de Pilates.

7. Relaxamento

Após uma contração deve ocorrer um relaxamento. Neste momento a mente trabalha sobre um corpo estático, sobre a percepção deste corpo, da tensão, das diferenças, do equilíbrio entre as partes. Desta forma, pode-se melhorar a simetria, adequando a consciência corporal. Deve-se aprender a mover-se sem tensão.

Finalidade do Método Pilates

Correção de desequilíbrios musculares, uma vez que trabalha na simetria e alinhamento, portanto, tende a corrigir e prevenir alterações posturais. Através dos exercícios concentrados, auxilia na adequação da imagem corporal, levando a uma postura mais ergonômica.

Consequentemente, os movimentos se tornarão mais ergonômicos. Visa à reabilitação física através de um condicionamento controlado, e finalmente, à melhora da funcionalidade. Serve como prevenção de lombalgia, diminui a queda no idoso, promove a tonificação nas gestantes, entre outros.

Pilates na Reabilitação Neurológica

Pessoas com deficiência física, com lesão desde o nascimento ou adquirida posteriormente, apresentam certas características que as levam a modificar suas atividades diárias. Entre estas características destacam-se, em graus diferentes:

  • Alteração do tônus (que é a consistência do músculo), podendo ser mais alto, dificultando a fluidez do movimento; ou mais baixo, às vezes impossibilitando o movimento; ou ainda alternando entre alto e baixo;
  • Sensibilidade comprometida, sendo a tátil e a proprioceptiva (perda da precisão do movimento, ou ainda, a não percepção da localização exata de um membro) as mais comumente afetadas;
  • Alterações motoras, ou seja, mudança na força muscular, na flexibilidade e na marcha;
  • Aumento de quedas por alteração do equilíbrio;
  • Perda da funcionalidade dos movimentos, sendo que estes não fluem harmoniosamente.

Estes fatores levam a perda da funcionalidade dos movimentos.

Muitas pessoas com lesão do Sistema Nervoso Central têm alterações das conexões sinápticas, nervosas, que controlam os músculos, o tônus e a sensibilidade, levando a real impossibilidade de movimento, e, para que esta pessoa seja funcional, é necessário o uso de outros grupos musculares para realizar uma atividade.

Desta forma instalam-se compensações e as tarefas mais simples podem se tornar complexas e penosas. Para realizar as atividades há um gasto energético alto, usando mais força e maior número de músculos que a atividade realmente exige, levando ao cansaço precoce e, isto, resume-se numa falta de ergonomia, comprometendo a independência e autonomia.

Portanto, este ciclo deve ser interrompido nas COMPENSAÇÕES.

O Pilates na reabilitação neurológica visa oferecer ao paciente uma adequação deste quadro. Ensina como movimentar melhor os membros através de exercícios, que, inicialmente, têm o objetivo de fortalecer o “centro ou cinturão”. Este está localizado no centro do tronco, basicamente na região lombar.

Através do método Pilates é possível trabalhar os músculos estabilizadores que fortalecem o centro corporal, melhorando a atuação e a função da coluna (que sustenta 75% do peso corporal). Os membros se tornarão mais leves, pois apenas os músculos necessários irão ser recrutados. Consequentemente, o esforço necessário para movê-los será bem menor, levando à diminuição das compensações.

O método Pilates promoverá a adequação do centro, levando à estabilidade “central” para que o movimento “periférico” ocorra de modo mais harmônico. Auxilia a pessoa a realizar o movimento com o menor gasto energético possível, com contração apenas dos músculos, ou grupo musculares, necessários.

Possivelmente, ainda haverá compensações, entretanto, mais amenas, movimentos mais harmônicos, menor desequilíbrio muscular e, portanto, um ciclo vicioso menor. A melhora do equilíbrio muscular irá levar à melhora da percepção corporal e postural.

Todos os exercícios exigem muita concentração e internalização, o que faz com que a pessoa se conscientize de seu corpo e seus movimentos.

Os exercícios são associados à respiração, com poucas repetições, são lentos e não levam à fadiga.

Os movimentos involuntários e o aumento do tônus muscular, que podem aparecem com o aumento da dificuldade da tarefa, tendem a diminuir, pois através do método Pilates é solicitada a contração apenas do músculo necessário, e os demais devem estar relaxados.

O tratamento é todo adaptado para deficiência neurológica, não sendo indicado para todos, e os resultados podem ser sentidos e observados em poucas sessões.

Diversos exercícios são realizados utilizando os princípios do Pilates.

Podem ser realizados no solo, com auxílio de bolas, elásticos, rolos, ou então nos aparelhos (reformer, chair, cadilac, wall unit, barrel). Os aparelhos possuem molas. Estas molas auxiliam, no caso de pacientes portadores de deficiências neurológicas, à direcionar o movimento, facilitar o movimento, e, desafiar o movimento. Desta maneira, favorecem um maior alinhamento, equilíbrio muscular e, consequentemente, diminuem as compensações.

Movimentos involuntários são “contidos”, podendo ser internalizados, e, aos poucos, se torna-los mais controlados. As molas ainda podem auxiliar na amplitude do movimento, na inibição de padrões anormais de movimento e na conscientização do próprio movimento.

O fisioterapeuta baseando se no método Pilates poderá intervir, auxiliando o paciente no desenvolvimento adequado do movimento, e, este aos poucos, poderá perceber suas necessidades, contribuindo com sua terapia.

Importante ressaltar que o Pilates Neurológico visa tornar o indivíduo autônomo, dono de seu corpo. Para conquistar essa independência, ele precisa tornar-se consciente da organização dos próprios movimentos.

Precisa conhecer-se a si mesma e aceitar a responsabilidade de conhecer-se melhor que a ninguém, não importando a idade. Senão vai sempre procurar a autoridade fora de si: no médico, no remédio, no tratamento. 

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