A importância do afeto no desenvolvimento cerebral das crianças

Neurocientista Suzana Herculano-Houzel explica como o afeto familiar determina as reações dos filhos diante do estresse, conflito e frustração 
O afeto é muito importante para a formação de um cérebro sadio no presente e no futuro. Receber ou não carinho modifica para sempre como o cérebro vai reagir diante de situações de estresse e frustração. As experiências vivenciadas nos primeiros três anos de vida são determinantes – até mais do que a carga genética – para moldar o funcionamento cerebral diante de situações estressantes e desafiadoras. 
Segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, uma das principais estudiosas da “mente das crianças” do País, o cérebro não nasce pronto, e por isso o afeto familiar recebido na primeira infância (período entre 0 e 5 anos) é o grande responsável por reações cerebrais que às vezes só vão se manifestar na vida adulta. 
Quando a criança recebe afeto em gestos como abraços, beijos, massagem, há liberação de ocitocina, um hormônio altamente influente na formação cerebral, que é produzido também durante a amamentação. A ocitocina acalma todas as partes cerebrais acionadas em situações estressantes e faz com que o cérebro produza a capacidade de vínculo. Funciona como uma ótima prevenção da ansiedade e outros transtornos de comportamento que, às vezes, só vão se manifestar na vida adulta. 
“Receber ou não carinho modifica para sempre como o cérebro vai reagir diante do estresse e da frustração. Mas apesar de ser muito mais marcante na infância, o carinho sempre influencia. Nunca é tarde para começar”, afirma a neurocientista. 



Nos primeiros anos de vida, o cérebro compreende mais rápido como reagir 

Aprendizagem mais rápida 
“As crianças não são adultas por dois motivos principais: o primeiro é que elas não têm a experiência trazida com o passar dos anos. O cérebro infantil não nasce pronto. O órgão é menor e mais leve do que o cérebro de um adulto”, explica a pesquisadora. O período em que o cérebro mais cresce e ganha peso acontece do nascimento até o terceiro ano de vida. Neste período, sabe-se que há maturação das conexões entre os neurônios, o que faz o peso da massa encefálica aumentar, ficando mais densa. Este processo é determinante para o bom funcionamento do cérebro. 
Durante este amadurecimento cerebral, a criança tem uma capacidade de aprendizado rápida e impressionante. Todas as habilidades estão se desenvolvendo. Um exemplo disso é que as crianças pequenas têm muito mais facilidade de aprender novos idiomas, mas essa capacidade vai diminuindo ao longo da vida. 
Nos primeiros anos de vida, o cérebro compreende mais rápido como reagir, sem precisar de tantas tentativas. Para criar um comportamento e uma reação padrão diante de algum estímulo – que pode ser um barulho, um estresse, uma sensação de medo, de solidão ou de felicidade – não é preciso repetir tantas vezes. 
A genética logicamente influencia muito em nossas habilidades e características, mas a vivência da criança e os exemplos que ela tem dentro de casa também são fundamentais para seu comportamento. 
“A capacidade de linguagem de uma criança, por exemplo, é intimamente ligada ao vocabulário da mãe, às palavras que ela fala com o bebê, só para citar um exemplo da influência do ambiente no desenvolvimento do cérebro infantil”, afirma Suzana. 
Apesar de ser muito mais marcante na infância, o carinho sempre influencia. Nunca é tarde para começar. 

O poder do carinho e do exemplo 
Assim, o estímulo que as crianças recebem dos pais durante a primeira infância é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de suas habilidades. Se a criança vê a mãe fazer de qualquer probleminha um problemão, o cérebro da criança aprende a reagir de forma estressada a qualquer situação. Assim, o perfil de reação ao estresse na fase adulta é aprendido e traçado na infância. 
Há diversos fatores que moldam esta reação cerebral, de maneira negativa ou positiva. Violências físicas ou verbais vivenciadas logo nos primeiros anos de vida são influências negativas. Uma mãe que grita demais ou age em descontrole passa a mensagem para o filho de que ele deve agir desta maneira quando não conseguir fazer alguma coisa. 
Por outro lado, de acordo com a neurocientista, o carinho também tem um grande poder de moldar o cérebro. Várias pesquisas científicas compravam que o carinho físico, o toque e o contato são um moldador cerebral, tornando a criança mais hábil e com um sistema de proteção orgânico mais forte. 
Muitos motivos para que pais lembrem-se de dedicar tempo e carinho aos filhos, cultivando o afeto, o contato físico, beijando, abraçando, com muito amor e paciência. Esse carinho é tão ou mais importante do que outros estímulos externos que possam ser oferecidos aos filhos.

Referência:

artigo publicado no site Ig, sobre palestra realizada na Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (entidade que elabora programas voltados à população infantil), em São Paulo.

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